terça-feira, 22 de outubro de 2013

SANGUE, SUOR E LÁGRIMA, A VOLTA DO CLÁSSICO ROSARINO

Rosário de Che Guevara, Rosário de Lionel Messi. Rosário de Marcelo Bielsa,  Litto Nebbia e   Fito Paez.  Ilustres rosarinos que orgulham esta idílica capital da província de Santa Fé. Mais do que tantas personalidades, Rosário ostenta a sorte - , ou o azar -   de sediar uma das mais ferozes rivalidades do planeta bola. Newell's Old Boys e Rosario Central dividem a cidade, fazendo de cada rosarino um Montecchio, um Capuleto de nossos tempos , derramando sangue, suor e lágrimas pelas margens do rio Paraná. São mais de 100 anos repletos de gols, mortes,  e mitos. A mais famosa lenda deu origem a alcunha das duas torcidas. Em 1920, o Newell's Old Boys teve a  ideia de realizar um  amistoso beneficente para arrecadar fundos para a ala especializada em lepra do hospital Carrasco. O Rosario Central não compareceu, e assim,  seus torcedores ficaram com a fama de Canallas,  que em troco, diziam que os rivais eram os amigos dos "leprosos". Dramatismo insólito, uma marca  deste embate, que neste último domingo voltava a acontecer após 3 anos de hiato. O Rosario Central tocou o inferno em 2010, graças a uma grave crise institucional que deixou o clube de Arroyito a beira da falência e longe da elite do futebol argentino. Sua fanática torcida teve que amargar dois anos da Nacional B - a segunda divisão argentina - ao passo que seu eterno rival armava um grande time, com o retorno de jogadores do calibre de Maxi Rodriguez e Gabriel Heinze, potencializado por jovens figuras reveladas por sua inesgotável categoria de base. Sob o comando de Tata Martino, o Newell's Old Boys conquistou o Torneio Inicial 2013 jogando um futebol vistoso que o deixou também a poucos minutos  minutos de uma nova final de Libertadores -  eliminado na semifinal pelo Atlético Mineiro de forma dramática. Depois de tantas gozações, os canallas finalmente puderam ver  o seu amado Rosario Central vencendo a B Nacional, retornando a elite do futebol argentino em grande estilo, sob a batuta do treinador Miguel Angel Russo. No entanto, era o Newell's quem pisava no estádio Gigante de Arroyito como favorito, líder e cheio de moral. No último treino, na quinta feira, 30 mil leprosos foram ao Colosso del Parque apoiar os jogadores e pedir por uma vitória contra o Rosario Central, em uma nova versão do Banderazo Leproso;  evento  que se converteu em um tradição do clube antes de cada clássico,  numa linda comunhão entre torcida e jogadores, poucas vezes vista no mundo do futebol. Por essas e outras, o clássico rosarino é vivido de uma forma que extrapola o campo e bola, eternizado nos versos do saudoso poeta Roberto Fontanarrosa. Canalla fanático, El negro Fontanarrosa  soube como ninguém, demostrar com sua pluma afiada o significado de um clássico rosarino."Venham, atrevam-se a viver o mitológico que é estar em pleno Gigante de Arroyito, reduto de Los canallas. Lá poderão  ver como los cagamos a goles y les rompemos el culo".Com este clima, os jogadores entraram em campo sob uma chuva de papeis picados, proporcionada por 42.000 almas enlouquecidas . Após 5 minutos de atraso, o embate começava a puro nervosismo. Muita imprecisão, chutões e pontapés. Os dois times no 4-3-3, com o conjunto local esperando o Newell's a 3/4 do campo, marcando a saída de bola e evitando que a bola chegasse a Pablo Perez, o condutor leproso - marcado implacavelmente por Nery Dominguez. Eis que aos 12 minutos, em uma falta da entrada da área, o Rosario Central encontrou o seu primeiro gol, graças ao zagueiro Alejandro Donatti, que cabeçou livre  sob a complacência da dupla de zaga -  formada do Victor Lopez e Gabriel Heinze. O Newell's respondeu rápido e em grande estilo, com seu tridente ofensivo - Figueroa, Maxi Rodriguez e Muñoz, mostrando os atributos que fazem do conjunto leproso o melhor time argentino na atualidade. Figueroa saiu da área, metendo um passe cirúrgico entre Ferrari e Pepino; Maxi Rodriguez, com toda a sua categoria, dominou com estilo,  definindo com maestria diante a saída desesperada de Caranta, a bola ainda beijou a trave, ficando dramaticamente servida para o empate leproso. O veterano jogador da seleção argentina, deixou transparecer todo o seu lado torcedor, beijando apaixonadamente o escudo rojinegro e provocando os torcedores locais com as mãos sob as orelhas, como pedindo: "Cantem agora canallas". O Newell's seguiu melhor após o gol, sempre com as subidas do lateral-esquerdo, Milton Casco, que partia para o ataque sem o acompanhamento do jovem Medina. Pablo Perez e Muñoz, perderiam chances insólitas diante do goleiro Caranta, dando argumentos para os supersticiosos . Os jogadores do Central, apesar do domínio leproso, seguiam disputando cada lance como se fosse o último, pressionando a saída de bola com seu trio de atacantes - Luna, Carrizo e Medina - além da dupla de meias formada por Encina e Lagos. Assim, o conjunto canalla encontraria o segundo gol. O goleiro Guzman, demonstrando toda sua imperícia na  reposição, entregou a redonda nos pés de Medina, que astutamente,  acionou Luna; o centroavante deu um peixinho, como no recordado gol de Aldo Pedro Poy - no mais historico clássico rosarino que  levou o Central para a final do Campeonato argentino de 1971 - deixando Hernan Encina, o homem de mil batalhas, livre para decretar a vitória. Festa em Arroyito, um gol esperado por quase 4 anos. Um grito do fundo da alma. O Newell's teve todo o  segundo tempo para buscar o empate. Teve domínio, posse de bola, um gol que a trave negou. No final, nem mesmo a entrada de David Trezeguet mudou o destino do clássico. O apito final desatou a loucura. Miguel Angel Russo, olhava atônito, sem dizer sequer uma palavra diante dos inoportunos microfones a beira do gramado. Uma lágrima que dizia tudo e muito mais. Uma catarse de alegria e alivio, de dever cumprido. Agora o Newell's pode ganhar o bendito bicampeonato nacional. Para o torcedor do Rosario Central, depois de tanto sofrer, nada mais importa. O titulo de campeão da cidade é canalla

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